O fracasso da missão: “mas todo mundo faz isso” (1 de 3)

O fracasso da missão: “mas todo mundo faz isso” (1 de 3)

Em artigo anterior, apresentei a forma como Josué foi bem-sucedido em sua missão. De “servidor de Moisés” (Js 1.1) quando chamado, passou a ser o “servo do Senhor” quando cumpriu a sua carreira (cf. Js 24.29). Isso porque confiou nas promessas do Senhor e não se desviou da sua palavra, assim como o Senhor o orientou (cf. Js 1.6-7). Mas, se Josué foi um exemplo de sucesso, o mesmo não pode ser dito do povo de Israel que o sucedeu.

A história de Israel, após a morte do grande general da nação, está registrada no livro dos Juízes. Assim como o livro de Josué, Juízes possui um movimento bem claro. Porém, diferente de Josué em que o movimento é positivo, isto é, Josué sendo reconhecido como servo do Senhor, em Juízes o movimento ético de Israel é negativo. Esse movimento pode ser ilustrado pelo primeiro e pelo último versículos do livro:

Jz 1.1. – Depois da morte de Josué, os filhos de Israel consultaram o Senhor

Jz 21.25 – Naqueles dias, […] cada um fazia o que achava mais certo.

No início, os filhos de Israel buscavam saber qual era a vontade do Senhor, mas no fim da história narrada em Juízes, cada um estava fazendo a sua própria vontade. Assim, há um movimento de uma vida centrada em Deus para uma vida centrada em si mesmo (autonomia). Esse movimento é a falha de Israel em sua missão.

Neste ensaio, quero apresentar uma das três preocupações ou razões terrenas que acredito terem levado Israel a falhar.

Israel fez o que “todo mundo” fazia.

Quando ainda estavam preocupados em saber qual era a vontade do Senhor (Jz 1.1), os filhos de Israel receberam instruções de batalha. A primeira tribo a ir a peleja deveria ser Judá (Jz 1.2-3). Porém, logo na primeira ação responsiva à vontade de Deus, a tribo de Judá revelou uma preocupação terrena. Ao chamar sua tribo-irmã Simeão para ir junto para a batalha, Judá demonstrou a preocupação com o número de guerreiros que fariam frente aos inimigos. Com isso, talvez Judá tenha considerado que alianças militares eram sempre bem-vindas em uma guerra.

No entanto, a guerra que os filhos de Israel estavam travando em Canaã não era uma guerra comum. Diferente das guerras de nossos tempos, em que as nações estão preocupadas com o controle econômico e territorial de uma região, a guerra dos filhos de Israel era moral. Para entendermos isso, precisamos lembrar que quando Deus prometeu Canaã para Abraão, a posse da terra estava condicionada ao tempo em que “a medida da iniquidade dos amorreus” estivesse cheia (Gn 15.16). Assim, quando Deus trouxe os descendentes de Abraão para Canaã era porque eles também seriam instrumentos de sua justiça contra aqueles que alcançaram o ápice da iniquidade. Porém, quando Judá chamou Simeão para a batalha tanto esse princípio, quanto a promessa de Deus de que faria um só homem perseguir mil, porque quem batalharia também era o Senhor (cf. Js 23.10), foram esquecidos.

O que “todo mundo” faz pode não ser o que Deus quer.

Além disso, outra evidência de que Judá estava atento mais às questões terrenas do que celestiais foi a forma como tratou o primeiro rei cananeu capturado. Este rei, Adoni-Bezeque, costumava cortar os polegares das mãos e dos pés dos reis inimigos quando os derrotava. Por isso, quando Israel o venceu em batalha e o prendeu, fez com ele o mesmo (cf. Jz 1.6).

O que o “pagar na mesma moeda” de Judá para com Adoni-Bezeque nos diz? Primeiro, que os filhos de Israel estão adotando práticas de povos que Deus ordenou que jamais fossem imitados (Dt 12.29-31). Segundo, revela que o processo de distanciamento da vontade do Senhor, a grande metanarrativa do livro dos Juízes, começou. Por fim, mostra que as ações do povo de Deus são interpretadas pelos demais como sendo sob a orientação do próprio Deus. Quando Adoni-Bezeque viu o que havia sido feito com ele, concluiu que era Deus que havia “pago na mesma moeda” (cf. Jz 1.7). Portanto, um ato de Judá segundo a sua própria vontade, não a de Deus, levou o rei cananeu a julgar que esta era a vontade do Senhor, o que nunca foi.

Conclusão

Para nós cristãos que não andamos mais segundo o curso deste mundo (Ef 2.2), a história de Judá e dos filhos de Israel é um alerta para que não venhamos a falhar em nossa missão. Eles abriram uma “brecha” no seu modo de proceder. Ao invés de guardarem a vontade e a palavra do Senhor, copiaram o que “todo mundo” faz. As terríveis consequências dessa decisão você pode conferir em outro artigo que escrevi.

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